ESPERANÇA CAMPONESA

Frei Sergio Güerguen

A Esperança não é o resultado de uma espera, mas de uma luta. Esperança se constrói.
A desesperança foi uma marca na vida camponesa nos últimos anos no Brasil. A desgraça grassou a vida dos pobres do campo, sem amparo e sem horizontes.

Hoje reabrem-se horizontes de esperança.
A luta camponesa é a fonte desta nova esperança.
Os movimentos camponeses em luta são alicerces deste novo tempo.
Não será dado, tudo será conquistado.
Num mundo onde a natureza e a vida estão ameaçadas em suas raízes, os camponeses e a vida camponesa passam a ter um novo papel civilizatório.
Constituem-se no único sujeito coletivo da humanidade com história, tradição e conhecimento para produzir alimentos saudáveis e limpos e ao mesmo tempo cuidar e preservar a mãe natureza. E manter, criar, recriar espaços de convivência comunitária humanizadora alternativa ao caos instalado nas contradições urbanas desordenadas.
Aqui está, inclusive, o novo sentido da reforma agrária no século 21.
Terá que produzir alimentos com menos máquina, menos químicos e mais trabalho. Também nisto o mundo camponês é horizonte de esperança numa sociedade que extingue postos de trabalho. E trabalhar, numa perspectiva humanizada e humanizadora, dá sentido às existências pessoais e coletivas. No mundo camponês, o trabalho tem um sentido ético, é valor humano.
As razões da esperança estão na crise ambiental e social vivida pela humanidade. Só os séculos de sabedoria camponesa tem no seu baú reservas de saberes e experiências vitais capazes de responder aos desafios de alimentar a humanidade preservando os recursos naturais e convivendo em ambientes socialmente justos.
O Campesinato sempre esteve tecnologicamente atualizado ao longo da história da humanidade. As grandes revoluções tecnológicas na produção de alimentos sempre foram incorporadas contemporaneamente pelos camponeses. É só com a revolução verde, no último século, que se cria um descompasso brutal e a exclusão camponesa em massa.
Mas a revolução verde, mesmo em sua terceira fase, está entrando em obsolescência. É tecnologicamente atrasada pois não consegue responder a elementos essenciais como preservação ambiental, qualidade de vida e alimentos limpos e saudáveis.
A agroecologia está se legitimando como a nova grande síntese filosófica, científica, agronômica e tecnológica incorporando grandes contribuições das várias correntes de agricultura ecológica, desenvolvendo novos conhecimentos científicos, mas respeitando e se somando à sabedoria camponesa e indígena construída em 12 mil anos de produção de alimentos em convivência com a natureza.
A agroecologia é a nova ponta da tecnologia agrícola e ela só é possível de ser praticada por comunidades camponesas. É impossível a convivência entre Agroecologia e latifúndio, agroecologia e monopólios.
Aos poucos esta nova síntese científica será incorporada pelos Movimentos Camponeses em luta, perpassará as escolas de formação dos profissionais da produção de alimentos, será exigência dos consumidores, dará respostas aos problemas criados pela revolução verde, será o novo passo da cultura humana e da vida em sociedade.
Aí reside um dos pilares da esperança camponesa. Ela será necessária para toda a humanidade e não só para os camponeses.
Aí nasce a nova missão camponesa na sociedade. Produzir alimentos limpos e saudáveis. Cuidar e preservar a mãe natureza. Cuidar e preservar a água irmã. Cuidar e tratar bem a terra mãe. Equilibrar o ambiente de todos. Formar e preservar comunidades de convivência saudável. Construir ambientes socialmente justos. Construir famílias sem dominação de gênero nem de gerações.
Mas como a escravidão, embora execrável à consciência humana, não caiu por sí, foi preciso derruba-la, só Movimentos Sociais fortes, organizados e em luta poderão dar vida e corpo a esta esperança que brota da terra.
A luta é a principal fonte de abastecimento da esperança. Os camponeses brasileiros demonstram cada vez mais e em maior numero, disposição para a luta coletiva e organizada.
Por isto a convicção sempre maior: a esperança camponesa derrotará, na luta dura e árdua, o latifúndio e o modelo agrícola das corporações transnacionais.
E do ventre da terra renascerão todas as formas de vida e as condições para a vida feliz e harmoniosa da raça humana.

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