MANIFESTO DOS Movimentos Sociais -ao Povo Brasileiro Sobre as Eleições 2010-

No início do processo eleitoral deste ano, os Movimentos Sociais e a Via Campesina Brasileira tomaram a decisão política de empenhar esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e governadores, identificados com as bandeiras populares da classe trabalhadora, com o aprofundamento da democracia e soberania brasileira e com políticas que combatam a concentração da propriedade e da renda em nosso país. Quanto à eleição presidencial, as organizações populares do campo que compõem a Via Campesina decidiram lutar para que não houvesse a vitória eleitoral de uma proposta neoliberal, representando pela candidatura do tucano José Serra.

Passando o primeiro turno dessa campanha eleitoral, realizado dia 3/10, queremos, com este comunicado ao Povo Brasileiro, manifestar nossa decisão política frente á eleições deste ano:

1. Sobre o primeiro turno:

a) São alvissareiras as renovações que ocorreram nas assembléias estaduais, na Câmera dos Deputados, no Senado Federal, na eleição e reeleição de governadores progressistas. Especialmente no Senado Federal, fomos vitoriosos com a eleição de companheiros e companheiras identificadas com nossas lutas e com a não eleição de senadores que se notabilizaram pela perseguição aos movimento sociais e identificados com os interesses do agro-negócio. Destacamos, como vitória, a derrota eleitoral do governo tucano de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, que se notabilizou, juntamente com o governo tucano de São Paulo, no controle da mídia, na criminalização dos movimentos sociais e na repressão à luta pela reforma agrária, aos movimentos de moradia e ao movimento dos professores da rede pública estadual.

b) Sobre as campanhas presidenciáis, evidenciou-se que não transcorreram debates em torno de projetos políticos e dos problemas principais que afetam a população brasileira. A campanha de Dilma Roussef buscou apenas de forma pragmática, divulgar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do governo Lula, apoiar-se na popularidade e nos enorme índices de aprovação do atual governo. Com essa estratégia obteve quase 47% dos votos, mas foi insuficiente para vencer no primeiro turno.

c) Quanto á candidatura de José Serra nos surpreendeu não por sua identificação com as políticas neoliberais e sim pelo baixo nível da sua campanha presidencial. Foi agressivo e perseguiu jornalistas que lhe entrevistaram, tentou interferir em julgamentos do Supremo Tribunal Federal(STF), espalhou mentiras e acusações infundadas, chegou a usar a própria esposa que percorreu as ruas de Niterói dizendo que a Dilma Roussef, “é a favor de matar as criancinhas”. Somente uma candidatura sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade e contando com o total controle sobre a mídia pode desenvolver uma campanha de tão baixo nível. A biografia do candidato já é a maior derrotada nessas eleições.

d) Quanto a candidatura de Marina Silva, cumpriu o objetivo a que se propôs: o de provocar o segundo turno nessa campanha eleitoral. O tempo dirá se o seu êxito serviu para fortalecer a democracia ou simplesmente foi utilizado pelas forças conservadoras, retornassem ao governo do país.

e) Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação inexpressiva.

f) O descenso social que há duas décadas temos em nosso país, fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade da política de comunicação com a sociedade, certamente influíram no resultado eleitoral. Cabe uma auto-crítica aos partidos políticos que se limitam apenas as campanhas eleitorais para dialogar com a sociedade, e que não fazem trabalho de base e de formação política permanente.

g) Por último, as eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e anti-democrático da mídia. Por outro lado, potencializou uma rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de expressão e com o direito à informação e que enfrentaram aguerridamente o monopólio dos meios de comunicação em nosso país. São avanços rumo à democratização da informação e pelo controle social sobre meios de comunicação.

2) Sobre o segundo Turno:

a) Reafirmamos nosso compromisso em defesa das bandeiras de lutas da classe trabalhadora e na construção de um país democrático, socialmente justo e soberano. Independentemente do governo eleito, seja ele qual for, iremos lutar, de forma intransigente pela expansão das liberdades e dos direitos democráticos oprimidos; mudanças nas instituições e serviços públicos, em benefício da ampla maioria da população; combate aos monopólios para o desenvolvimento com soberania e distribuição de renda; defesa das conquistas trabalhistas, a redução da jornada de trabalho, o direito de greve para os servidores públicos; a Previdência Social pública, de boa qualidade pelo fim do fator previdenciário; realização de uma reforma urbana, com moradia, saneamento básico, transporte público e segurança; construção de serviços de saúde universal e de boa qualidade; reformas na educação pública e promoção da cultura nacional-popular com caráter universal; fim do latifúndio, controle do capital estrangeiro sobre nosso, recursos naturais e a realização de uma reforma agrária anti-latifundiária; implantação de novas relações da sociedade com o meio-ambiente e efetivação uma política externa de autodeterminação, solidariedade aos povos e que priorize a integração dos povos do continente latino-americano e do Caribe.

b) Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção á essas bandeiras democrático-populares, foram insuficientes em, que pese o acerto de sua política externa. Também nos preocupa constatar que, no arco de alianças da candidatura de Dilma Roussef, há forças políticas que se contrapõem à essas demandas sociais.

c) Porém, temos uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu governo no estado de São Paulo e pelos oito anos de governo FHC, tornou-se inimigo dessas bandeiras de lutas. Pelo caráter conservador e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança eleitoral e por sua personalidade autoritária estamos convictos que uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos sociais e populares em nosso país, e para as conquistas democráticas em nosso continente e uma maior subordinação ao império estadunidenses. Esse retrocesso não queremos que aconteça.

3. Nossa Posição frente ao Segundo Turno:

Assim, os Movimentos Sociais e a Via Campesiana Brasileira afirmam o seu apóio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Roussef para o cargo de presidenta do Brasil. Queremos nos juntar aos movimentos sindicais, populares, estudantis e religiosos, progressistas, para promover debates com a sociedade, desmascarar a propaganda enganosa dos neoliberais e autoritários e exigir avanços na democracia e nas políticas públicas que favoreçam a população, no combate aos corruptos e corruptores e na democratização do poder em nosso pais.

Precisamos derrotar a candidatura Serra, pois ela representa as forças direitistas e fascistas do país.
Devemos seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e mudanças sociais, mantendo sempre nossa autonomia política frente aos governos.
Conclamamos a militância de todos os movimentos sociais, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro, para se engajarem nessa luta, que é importantíssima para a classe trabalhadora.

Vamos à Luta!!

Vamos eleger Dilma Roussef, presidenta do Brasil.


São Paulo, 6 de outubro de 2010.



Assembléia Popular- Pernambuco

Centro de Estudos Barão de Itararé- articulação de blogs e imprensa alternativa


Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Marcha Mundial das Mulheres-MMM


Movimento dos atingidos por barragens- MAB

Movimento dos pequenos agricultores- MPA

Movimento das mulheres camponesas- MMC

REBRIP - Rede Brasileira de Integração dos Povos


Senge/PR - Sindicato dos Engenheiros do Paraná
UNEAFRO- União dos estudantes afrodescendentes

Via Campesina Brasil

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