Natal: Jesus ou papai Noel ?

Análise
Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel

Frei Betto

Aproxima-se o Natal. Curioso como, numa sociedade tão laicizada como a nossa, na qual predomina a tendência de escantear a religião para a esfera privada, uma festa religiosa ainda possa constituir um marco no calendário dos países do Ocidente.
Há nisso uma questão de fundo: o ser humano é, por natureza, lúdico e sociável, o que o induz a ritualizar seus mais atávicos gestos, como alimentar-se ou se relacionar sexualmente. Além de elaborar, condimentar e enfeitar sua comida, o que nenhum outro animal faz, o ser humano exige mesa e protocolo, como talheres e a sequência prato forte e sobremesa.
No sexo, não se restringe ao acasalamento associado à procriação. Faz dele expressão de amor e o reveste de erotismo e liturgia, embora o pratique também como degradação (prostituição, pornografia e pedofilia) e violência (jogo de poder entre parceiros).
O Carnaval, como o Natal, era originariamente uma festa religiosa. Nos três dias que antecedem a Quaresma, período de jejum e abstinência recomendados pela Igreja, os cristãos se fartavam de carnes – daí o termo Carnaval, festival da carne. Resume-se, hoje, a uma festa meramente profana, onde a carne predomina em outro sentido...
Essa transmutação ocorre também com o Natal. Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel. O que deveria ser memória da presença de Deus na história humana, passa a ser mero período de miniférias centrada em muita comilança e troca compulsiva e compulsória de presentes.
Daí o desconforto que todo Natal nos traz. Como se o nosso inconsciente denunciasse o blefe. Sonegamos a espiritualidade e realçamos o consumismo. Ótimo para o mercado. Mas o será também para as crianças que crescem sem referências espirituais e valores subjetivos, sem ritos de passagem e senso de celebração?
Longe de mim pretender restaurar a religiosidade repressiva do passado. Mas se há algo tão inerente à condição humana, como a manutenção (comer) e a procriação (sexo) da vida, é a espiritualidade. Ela existe há cerca de um milhão de anos, desde que o símio deu o salto para o homo sapiens. As religiões são recentes, surgiram há menos de dez mil anos.
Se a espiritualidade não é fomentada na linha da interiorização subjetiva e da expressão de conexão com o Transcendente, ela corre o sério risco de, apropriada e redirecionada pelo sistema, cair na idolatria de bens materiais (patrimônio) e de bens simbólicos (prestígio, poder, estética pessoal etc). Talvez isso explique por que a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas similares a catedrais pós-modernas...
Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, “o mal-estar da civilização”, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.
Com certeza o Natal é ocasião propícia para, como propôs Jesus a Nicodemos, nascer de novo...

Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org twitter: @freibetto

NATAL

O Menino, o Boi e o Jumento

De repente, o menino abriu os olhos. "Agora ele vai chorar" disse o burrinho ao boi, "pois nossos focinhos feios o assustaram".

Os evangelhos não falam do boi e do burrinho que estariam na manjedoura junto a Jesus sobre as palhinhas. Mas a tradição fala neles. Sua história é comovente e encanta crianças e adultos. Em tempos de ecologia ganha um significado especial. Vamos contar a verdade desta estória antiga que é contada a seu modo em cada lingua.

Um camponês tinha um boi e um jumento muito velhos e já imprestáveis para o trabalho no campo. Afeiçoara-se a eles. Gostaria que morresssem de morte natural. Mas iam definhando dia a dia. Resolveu sacrificá-los no matadouro. Quando decidiu, sentiu-se mal não conseguindo dormir à noite.

O boi e jumento perceberam que havia algo de estranho no ar. Moviam mal suas carcaças sem poder dormitar. A vida lhes fora dura. Passaram por vários donos. De todos apanharam muito. Era sua condição de animais de carga.

Lá pela meia-noite, repentinamente, sentiram que uma mão invisível os conduzia por estreito caminho rumo a uma estrebaria. Diziam entre si: "Que nos obrigarão fazer nesta noite fria? Não temos mais força para nada".

Foram conduzidos a uma gruta, onde havia uma luzinha trêmula e uma manjedoura. Pensavam que iam comer algum feno. Ficaram maravilhados quando viram que lá dentro, sobre palhinhas, tiritante, estava um lindo recém-nascido. Um velho inclinado, José, procurava aquecer o menino com seu sopro. O boi e o burrinho logo entenderam. Deviam aquecer o menino. Também com seu sopro. Aproximaram seus focinhos. Quando perceberam a beleza e a irradiação do menino, suas carcaças estremeceram de emoção. E sentiram forte vigor interno. Com os focinhos bem pertinho do menino, começaram, lentamente, a respirar sobre ele que assim ficou aquecido.

De repente, o menino abriu os olhos. "Agora ele vai chorar" disse o burrinho ao boi, "pois nossos focinhos feios o assustaram". O menino, ao contrário, os fitou amorosamente e estendeu a mãozinha para acariciar seus focinhos. E continuava a sorrir, como se fora uma cascata de água.

"O menino ri" disse José a Maria. "Ele não pára de rir". "Deve ser porque o focinho do boi e do burrinho são engraçados". Maria sorriu e ficou calada. Acostumada a guardar todas as coisas em seu coração, sabia que era um milagre de seu divino menino.

O fato é que os próprios animais ficaram alegres. Ninguém lhes havia reconhecido algum mérito na vida. E eis que aqui estavam acalentando o Senhor do universo na forma de uma criança.

Ao voltar para casa, perceberam que outros burros e bois os olhavam com ar de admiração. Estavam tão felizes que ao avistar a casa arriscaram até um galope. Ai perceberam que estavam realmente cheios de vitalidade.

Voltaram para a estrebaria. De manhãzinha veio o patrão para levá-los ao matadouro. Eles ficaram assustados, como se dissessem:"deixa-nos viver um pouco mais!". O padrão olhou espantado e disse: "mas estes não são os meus velhos animais? Como assim que estão revigorados, com a pele lisa e luzidia e as pernas firmes e fortes"?

Ele os deixou estar. Durante anos e anos serviram ao patrão fielmente. Mas ele sempre se perguntava: "Meu Deus, quem transformou de repente em jovens e vigorosos, o burrinho e o boi tão velhinhos"? Mas as crianças que sabem do menino Jesus, têm condições de lhe dar uma resposta.

Com o Menino, o boi e o jumento desejo: "Feliz Natal a todos os leitores e leitoras".

Leonardo Boff é teólogo e membro fundador do CDDH.

A Revolução Brasileira

Dados de 1999 dão conta de que 400 mil famílias ou seja 1% da população detêm 53,% da riqueza nacional. Essa minoria não mostra humanidade para com as outras 39,6 milhões de famílias.

A palavra revolução se encontra no limbo do discurso político. Mas ela deve ser trazida ao mundo sub-lunar para dar sentido à presente situação brasileira em tempos de eleição. Tomamos revolução no sentido que lhe conferiu Caio Prado Jr. no seu clássico Revolução Brasileira(1966), definição que deixa para trás a idéia convencional que associa revolução com violência: "transformações ca- pazes de reestruturarem a vida do Brasil de maneira consentânea com suas necessidades mais gerais e profundas, e as aspirações da grande massa de sua população que, no estado atual, não são devidamente antendidas…algo que leve a vida do país por um novo rumo". Elenquemos alguns dados que clamam por uma reestruturação social do Brasil:

Em primeiríssimo lugar, o fato vergonhoso de que um terço da população se encontra abaixo da linha da miséria, num pais que é um dos maiores exportadores de grãos. Só esse dado macroscópico por si só justifica uma revolução.

Em segundo lugar, a desigualdade que grita caninamente ao céu. Dados de 1999 dão conta de que 400 mil famílias ou seja 1% da população detêm 53,% da riqueza nacional. Essa minoria não mostra humanidade para com as outras 39,6 milhões de famílias. Mais que brasileira, essa minoria sente-se transnacionalizada. Lá fora nos hotéis cinco estrelas tem vergonha de ser brasileira.

Em terceiro lugar, a dívida externa impagável, sempre de novo renegociada como agora.Para responder a essa dívida, o Governo deve se submeter aos diatames do FMI. Caso contrário, não recebe capitais externos para fechar suas contas (23 bilhões em 2001). O serviço dessa dívida subtraiu dos cofres públicos em 2001 cerca de 106,9 bilhões de reais. Traduzindo: equivale a retirar R$ 203.000 por minuto, 24 horas por dia, 365 dias no ano. Destes 106,9 bilhões somente 44 bilhões são nossos, resultado de aumento de impostos e de cortes nas políticas sociais Os restantes 62,9 bilhões de reais são novos empréstimos de fora. Tais distorções não pedem um novo rumo?

Em quarto lugar, o custo social do Plano Real. Mantem estabilizada a moeda com controle da inflação mas a preço de elevado custo social devido aos altos impostos que restringem o crescimento econômico, engessando os salários. É crescente o número dos excluidos.

Nas atuais eleições estão enfrentados estes dois projetos: o primeiro quer a continuidade da modernização conservadora (porque não é social), via inserção na globalização, tolerando as contradições mas com a convicção de que lá na frente será bom para todos; o segundo quer a mudança de eixo (seu aspecto revolucionário),fundando um novo pacto social que resgate as dívidas sociais inatendidas, com a convicção de que é possível realizar mudanças estruturais com democracia.

O segundo projeto está recebendo a preferência do eleitorado. A reação dos continuistas é criar uma blindagem política para o projeto da modernização conservadora. Fazem-no obrigando o eventual vencedor a se declarar fiel aos compromissos internacionais e a respeitar o jogo atual da economia para que não seja substancialmente mudada. Mas a revolução é necessária e há forças para fazê-la acontecer. Importa querê-la decididamente.

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Leonardo Boff é teólogo e membro fundador do CDDH.

FALA LEONARDO BOFF


Qual será o próximo passo?

Cremos que agora poderá surgir um ser humano com outro passo, pois será marcado pelo inexaurível capital espiritual. Agora é o mundo do ser mais que o mundo do ter.

A situação atual da Terra e da Humanidade nos faz pensar. Consolidou-se a aldeia global. Ocupamos praticamente todo o espaço terrestre e exploramos o capital natural até os confins da matéria e da vida, com a utilização da razão instrumental-analítica.

A pergunta que se coloca agora é: qual será o próximo passo? Mais do mesmo? Mas isso é muito arriscado, pois o paradigma atual está assentado sobre o poder como dominação da natureza e dos seres humanos. Não devemos esquecer que ele criou a máquina de morte que pode destruir a todos nós e a vida de Gaia. Esse caminho parece ter-se esgotado. Do capital material temos que passar ao capital espiritual. O capital material tem limites e se exaure. O espiritual, é ilimitado e inexaurível. Não há limites para o amor, a compaixão, o cuidado, a criatividade, realidades intangíveis que perfazem o capital espiritual.

Este foi parcamente explorado por nós. Mas ele pode representar a grande alternativa. A centralidade do capital espiritual reside na vida, na alegria, na relação inclusiva, no amor incondicional e na capacidade de transcendência. Não significa que tenhamos que dispensar a tecnociência. Sem ela não atenderíamos as demandas humanas. Mas ela não seria mais destrutiva da vida. Se no capital material a razão instrumental era seu motor, no capital espiritual é a razão cordial e sensível que organizará a vida social e a produção. Na razão cordial estão radicados os valores; dela se alimenta a vida espiritual pois produz as obras do espírito que referimos acima: o amor, a solidariedade e a transcendência.

Se no tempo dos dinossauros houvesse um observador hipotético que se perguntasse pelo próximo passo da evolução, provavelmente diria: o aparecimento de espécies de dinos ainda maiores e mais vorazes. Mas ele estaria engado. Sequer imaginaria que de um pequeno mamífero que vivia na copa das árvores mais altas, alimentando-se de flores e de brotos e tremendo de medo de ser devorado pelos dinossauros, iria irromper, milhões de anos depois, algo absolutamente impensado: um ser de consciência e de inteligência - o ser humano - com uma qualidade totalmente diferente daquela dos dinossauros. Foi um passo diferente.

Cremos que agora poderá surgir um ser humano com outro passo, pois será marcado pelo inexaurível capital espiritual. Agora é o mundo do ser mais que o mundo do ter.

O próximo passo, então, seria exatamente este: descobrir o capital espiritual inesgotável e começar a organizar a vida, a produção, a sociedade e o cotidiano a partir dele. Então a economia estará a serviço da vida e a vida se imbuirá dos valores da alegria e da auto-realização, uma verdadeira alternativa ao paradigma vigente.

Mas este passo não é mecânico. É voluntário. Quer dizer, ele é oferecido à nossa liberdade. Podemos acolhe-lo como podemos também recusa-lo. Ele não se identifica com nenhuma religião. Ele é algo anterior, que emerge das virtualidades da evolução consciente. Quem o acolhe, viverá outro sentido de vida, vivenciará também um novo futuro. Os outros continuarão sofrendo os impasses do atual modo de ser e se perguntarão, agustiados, pelo seu futuro e até sobre o eventual desparecimento da espécie humana.

Estimo que a atual crise mundial nos abre a possibilidade de um novo passo rumo a um modo de ser mais alto. Dizem por aí que Jesus, Francisco de Assis, Gandhi e tantos outros mestres do passado e do presente teriam, antecipadamente, dado já esse passo.

Princípio-Terra

Se nada for feito, iremos ao encontro do pior e milhões de seres humanos poderão deixar de viver sobre o planeta.

Nunca se falou tanto da Terra como nos últimos tempos. Parece até que a Terra acaba de ser descoberta. Os seres humanos fizeram um sem número de descobertas, de povos indígenas embrenhados nas florestas remotas, de seres novos da natureza, de terras distantes e de continentes inteiros. Mas a Terra nunca foi objeto de descoberta. Foi preciso que saíssemos dela e a víssemos a partir de fora, para então descobri-la como Terra e Casa Comum.

Isso ocorreu a partir dos anos 60 com as viagens espaciais. Os astronautas nos revelaram imagens nunca dantes vistas. Usaram expressões patéticas, como "a Terra parece uma árvore de Natal, dependurada no fundo escuro do universo", "ela é belíssima, resplandecente, azul-branca", " ela cabe na palma de minha mão e pode ser encoberta com meu polegar". Outros tiveram sentimentos de veneração e de gratidão e rezaram. Todos voltaram com renovado amor pela boa e velha Terra, nossa Mãe.

Esta imagem do globo terrestre visto do espaço exterior, divulgado diariamente pelas televisões do mundo inteiro, suscita em nós sentimento de sacralidade e está criando novo estado de consciência. Na perspectiva dos astronautas, a partir do cosmos, Terra e Humanidade formam uma única entidade. Nós não vivemos apenas sobre a Terra. Somos a própria Terra que sente, pensa, ama, sonha, venera e cuida.

Mas nos últimos tempos se anunciaram graves ameaças que pesam sobre a totalidade de nossa Terra. Os dados publicados a partir de 2 de fevereiro de 2007 culminando em 17 de novembro pelo organismo da ONU Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, com os impasses recentes em Bali nos dão conta de que já entramos na fase do aquecimento global com mudanças abruptas e irreversíveis. Ele pode variar de 1,4 até 6 graus Celsius, dependendo das regiões terrestres. As mudanças climáticas possuem origem andrópica, quer dizer, tem no ser humano que inaugurou o processo industrialista selvagem, seu principal causador.

Se nada for feito, iremos ao encontro do pior e milhões de seres humanos poderão deixar de viver sobre o planeta.

Como destruimos irresponsavelmente, devemos agora regenerar urgentemente. A salvação da Terra não cái do céu. Será fruto da nova corresponsabilidade e do renovado cuidado de toda a família humana.

Dada esta situação nova, a Terra se tornou, de fato, o obscuro e grande objeto do cuidado e do amor humano. Ela não é o centro físico do universo como pensavam os antigos, mas ela se tornou, nos últimos tempos, o centro afetivo da humanidade. Só temos este planeta para nós. É daqui que contemplamos o inteiro universo. É aqui que trabalhamos, amamos, choramos, esperamos, sonhamos e veneramos. É a partir da Terra que fazemos a grande travessia rumo ao além.

Lentamente estamos descobrindo que o valor supremo é assegurar a persistência do planeta Terra e garantir as condições ecológicas e espirituais para que a espécie humana se realize e toda a comunidade de vida se perpetue.

Em razão desta nova consciência. falamos do princípio Terra. Ele funda uma nova radicalidade. Cada saber, cada instituição, cada religião e cada pessoa deve colocar-se esta pergunta: que faço eu para preservar a mátria comum e garantir que tenha futuro, já que ela há 4,3 bilhões de anos está sendo construida e merece continuar a exitir? Porque somos Terra não haverá para nós céu sem Terra.

*Publicado também no Jornal do Brasil de 04/04/2008

Leonardo Boff é teólogo e membro fundador do CDDH.

14 anos do Massacre de Eldorado de Carajás


17 de abril de 1996
Município de Eldorado de Carajás
2 mil sem terra marcham na rodovia PA-150 por reforma agrária
Governador Almir Gabriel (PSDB) ordena desocupar a rodovia
Ação da Polícia Militar do Pará

19 trabalhadores rurais executados a sangue-frio
69 feridos
3 mortos dias depois
66 mutilados físicos
2 mil pessoas mutiladas na alma e na memória (palavras do jornalista Eric Nepomuceno)

144 incrimidados
2 condenados (coronel Mario Colares Pantoja e major José Maria Pereira Oliveira, da PM-PA)
Nenhum dos responsáveis está preso
A violência contra os sem-terra continua
Não saiu a Reforma Agrária

O Haiti é Aqui


Postamos hoje uma contribuição importante à análise da situação no Rio – que não pode ser desvinculada da análise da situação brasileira, e do sistema-mundo moderno-colonial como um todo – que nos é oferecida pelo geógrafo Carlos Walter Porto Gonçalves. Vale a leitura!

Sobre o Rio 2010, 2014, 2016 …

por Carlos Walter Porto-Gonçalves[1]

O espetáculo da violência que se quer legítima por parte do Estado globalizando Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão coloca a sociedade brasileira diante de si mesma e nos mostra que seu destino e futuro não podem ser pensados sem olharmos de frente nosso passado. Vivemos uma época onde o capitalismo financeirizado usa como estratégia a produção de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esses eventos desencadeiam excelentes oportunidades de negócios no setor da construção civil, turismo, marketing e publicidade, indústria esportiva e mídia conformando um bloco de poder que insta os estados a agir em seu interesse em nome de atrair investimentos e gerar emprego e renda. Como se tratam de eventos, o nome já o diz, seus empregos são eventuais e a geração de renda beneficia desigualmente os diferentes estratos sociais: alguns terão empregos na construção civil, uns serão porteiros depois das obras, e outros serão guias turísticos e repórteres por alguns dias. O setor financeiro, as incorporadoras de imóveis, as grandes redes hoteleiras, a indústria esportiva e as empresas de marketing e publicidade já estarão promovendo ouros grandes eventos a serem transmitidos pelas redes globais de TV em canais abertos e fechados.

O fato é que essa globalização, que Milton Santos bem chamou de globalitarismo, com seu pensamento único é uma bela síntese da combinação do capitalismo que opera por cima das fronteiras, globalizando, com seu sistema de estados territoriais brandindo um nacionalismo de mercado onde as seleções e os atletas disputam pódios e medalhas, onde quase sempre alguma Vila de alguma periferia sobe e cafusamente revela a outra globalização que quer ser premiada. Só eventualmente, pois a globalização de hoje guarda uma história de longa duração que começa em 1492 quando a Europa deixa de ser uma área marginal e passa a ser o centro de um mundo que se mundializa a partir da invasão do nosso mundo (Abya Yala) por eles chamados de novo mundo (América). Ali começava uma grande revolução tecnológica, no mundo das navegações, da arte militar, na cartografia, enfim, no pensamento em geral para além da revolução na geografia mundial, dando início à modernidade, a primeira modernidade de fala portuguesa e espanhola. Sabemos que uma segunda modernidade de fala inglesa, hoje hegemônica, desqualifica essa primeira modernidade e com isso a componente colonial que lhe é constitutiva. A primeira modernidade seria católica e a segunda acreditaria nos milagres da ciência (e se esquece que a fé na ciência não é ciência e, sim, ainda fé

Agronegócio 100 x 16 Pequena Agricultura

Publicado 08 de junho de 2010 — por reformaagraria1Categoria (1) Raio-x do campo e impactos do agronegócio

Mesmo com pouca terra, apenas uma quarta parte da área dos estabelecimentos agropecuários, a agricultura familiar camponesa é fundamental para a cesta básica dos brasileiros.

Os estabelecimentos familiares são responsáveis por 87% da produção nacional de mandioca, 70% de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo. Ainda respondem por 58% da produção do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos.

É importante frisar que boa uma parte desta produção é feita nos assentamentos de reforma agrária.

Além disso, 38% do valor bruto da produção, uma produção avaliada em R$ 54,4 bilhões por ano, são devidos à agricultura familiar.

Ano passado, o Plano Safra do Ministério da Agricultura já deixou claro quais são os objetivos reais do governo federal quanto se trata em investimentos na agricultura brasileira. Foram R$ 93 bilhões disponibilizados para o agronegócio, contra R$ 15 bilhões para a agricultura familiar.

Agora vem de novo a notícia estampada na Folha de São Paulo:

Produtores rurais terão R$ 100 bi na próxima safra
Somado ao crédito para agricultura familiar, total será de R$ 116 bi; parte do dinheiro irá para sustentabilidade

São R$ 7 bilhões a mais para a agricultura comercial, contra R$ 1 bilhão a mais para a agricultura camponesa.

Show de bola. Agronegócio 100 x 16 Agricultura Camponesa.

Pelo que me consta, para um ser humano sobreviver ele precisa de nutrientes que são adquiridos por meio dos produtos anteriormente citados.

Logo, não podemos pensar na perpetuação da nossa espécie com uma alimentação com base na produção do agronegócio, ou seja, na cana, no soja e muito menos no eucalipto, mesmo que estes venham em cápsulas. E este é apenas um dos motivos!

II FESTA DA COLHETA DAS SEMENTES DA RESISTÊNCIA DE ALAGOAS

NA COMUNIDADE DE LAGOA DO FIM CACIMBINHAS – ALAGOAS

Dia 19 de dezembro de 2010

PLANTAR, COLHER REPARTI E CELEBRAR.

CONVITE

COMPANHEIROS ECOMPANHEIRAS

A Coordenação da Amigreal, através do grupo de base da comunidade de Lagoa do Fim do mundo, Vem através deste convidar você e toda comunidade em geral (pastorais sociais e instituições parceiras) e o povo de Deus,para prestigiar a II FESTA DA COLHETA DAS SEMENTES DA RESISTÊNCIA DE ALAGOAS que acontecerá no próximo dia 19 de Dezembro às 14:h na comunidade de lagoa do fim mundo, no município de Cacimbinhas /AL.

A festa da colheita já vem sendo realizada de forma itinerante desde o ano passado na sua primeira edição foi realizada no Acampamento Nossa senhora de Guadalupe em Igaci,neste ano de 2010 estaremos realizando com muito alegria na comunidade de Lagoa do Fim do mundo, onde teremos comidas típicas, apresentação culturais,gincanas e o um momento especial de encontro com Deus com a Celebração da palavra.A realização da festa nesta comunidade é símbolo da resistência e permanência do povo organizado que luta por garantia dos seus direitos de viver bem no campo com soberania alimentar no semi-árido Alagoano.

O grito dos que trabalham nas colheitas chegou até os ouvidos do senhor. ‏

Por isso, queremos contar com a presença em nosso encontro irmãos, para que juntos cantemos a magnífica que Javé o Deus libertador nos concede pelos frutos da terra conquista.

Por favor, confirmar participação, pelo e-mail amigreal.oficial@hotmail.com amigrealigaci@hotmail.com e pelo telefone: (82) 9123-6446,82- 91122046.

Cordialmente agradecem,

AMIGREAL

Sementes Patrimônio dos povos.

A serviço da humanidade!

Vem participar conosco!

MAIS UMA ROMARIA DA TERRA E DAS ÁGUAS FOI REALIZADA EM ALAGOAS E CONTOU COM PARTICIPAÇÃO DA COORDENAÇÃO DA AMIGREAL


No dia 27 de novembro de 2010 em porto calvo alagoas foi realizado mais uma 23ª Romaria das águas e da terra, este evento de fé e realizado todos os anos pela comissão pastora da terra de alagoas em parceria com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que já vem a 23 anos realizando e conquistou um grande apoio da sociedade Alagoano

povo de Deus em macha
Pela primeira vez acontecerá no município de Porto Calvo, distante 91km de Maceió, tem como tema central “Menos terra concentrada, mais famílias assentadas”, e ainda celebrará o lema “400 anos de evangelização: clamando por terra, água e pão”.De acordo com Adriano Ferreira Coordenador da Amigreal a romaria e símbolo da luta e resistência dos povos sofrido do campo

Carlo lima,Cpt Adriano Ferreira,Amigreal e Padre Rogerio,pastoral social
Pela segunda vez o coordenador estadual da amigreal Adriano Ferreira participou deste grande momento de fé e de encontro com Deus e os irmão que luta por reforma agrária
A fundamentação bíblica e teológica desta Romaria encontra-se no livro do êxodo, inspira-se na luta dos hebreus que movidos por Javé e liderados por Moisés rompem com a escravidão no Egito e saem numa grande romaria rumo a Terra Prometida, aonde corria leite e mel. É um espaço que reúne os escravizados pelo latifúndio e pelas cercas, que são privados do direito sagrado de ter um pedaço de chão para produzirem alimentos, assim como, é também o momento de agradecer ao Senhor da vida a alegria de ter conseguido, com muita luta, um lote de terra para plantar. Por doze anos, ocorreu na Serra da Barriga em União dos Palmares – símbolo de resistência, igualdade racial e luta pelo território. No ano passado, aconteceu na capital alagoana e fez parte da programação celebrativa dos 25 anos da CPT no Estado.
De acordo com o historiador e Coordenador da CPT, Carlos Lima, neste ano quando ocorreu o Plebiscito Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra busca-se refletir sobre o processo de concentração da terra que surgiu como uma imposição colonial e é uma injustiça praticada em nosso país, criou-se um abismo social e a destruição da natureza (matas, rios e nascentes). Este duro golpe dado pelas elites contou e conta com o apoio de instituições, transformando a terra e as pessoas em mercadorias, preservando os patrimônios e desprezando o ser humano, além de ofender o Criador e a criação. O município de Porto Calvo é um dos antigos núcleos de povoamento, os indígenas foram os primeiros habitantes, que foram expulsos das suas terras e explorados, e a povoação cresceu em paralelo com a exploração da terra e o desenvolvimento do cultivo de cana de açúcar.

Romaria da Terra aborda: “Menos terra concentrada, mais famílias assentadas”


O município de Porto Calvo sedia hoje (27.11) a partir das 20h, a 23ª Romaria da Terra e das Águas do Estado de Alagoas. É uma promoção da Comissão Pastoral da Terra (CPT-AL) em parceria com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e conta com o apoio da Arquidiocese de Maceió, Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL) e da Paróquia Nossa Senhora da Apresentação. Ao todo serão 11km de caminhada, da Comunidade Manganzala até o Assentamento Conceição, e tem como tema central: “Menos terra concentrada, mais famílias assentadas”.

Cerca de 5000 pessoas oriundas de várias partes do Estado e paróquias prestigiarão as apresentações culturais e a Santa Missa às 22h, presidida pelo Arcebispo Dom Antônio Muniz, que também exaltará o lema “400 anos de evangelização: clamando por terra, água e pão”. É um momento de integração entre o campo e a cidade, envolvendo trabalhadores(as) rurais, padres, religiosos(as), representantes de movimentos sociais, leigos e população local.

Após a celebração, os romeiros e romeiras seguirão em caminhada e cantarão músicas religiosas, que também ressaltam a luta campesina e por dignidade de filhos e filhas de Deus. Durante as paradas estratégicas terão reflexões críticas sobre a concentração da terra em poucas mãos e as conquistas dos assentamentos, como sinal de partilha e de pão na mesa dos empobrecidos. A Romaria também é o momento de agradecer ao Senhor da vida a alegria de ter conseguido, com muito esforço e resistência, um lote de terra para plantar e ressaltar a importância da reforma agrária no país.


Refletindo o tema da 23ª Romaria: “Menos Terra Concentrada, Mais Famílias Assentadas”
Por: Carlos Lima
Historiador e Coordenador da CPT-AL



Um velho careca (calvo) construiu um porto no rio... Assim, segundo a lenda, nasceu o nome da cidade de Porto Calvo. Terra de Calabar e a do rei Zumbi. Também foi em Porto Calvo que começou o Cristianismo católico em Alagoas, sob as bênçãos da Virgem da Apresentação, senhora da Igreja e mãe dos empobrecidos, serva de Deus e educadora da fé.

Neste município de muita história e pouca memória, já no século XVI existia como freguesia, fundado por Cristóvão Lins, responsável pela introdução da cana de açúcar e dos primeiros engenhos - Escurial, Maranhão e Buenos Aires - que duraram quatro séculos e foram substituídos pelas atuais usinas.

Para instalar a cultura branca e produzir cana de açúcar, os portugueses e seus representantes tiveram que expulsar os índios de suas terras e utilizar a mão de obra escrava nos canaviais, assim surgia o processo de concentração da terra, sinônimo de riqueza para algumas famílias e de miséria para a população. Este modelo de produção que nasceu em Porto Calvo, se expandiu em todo o Estado adotando a pólvora e a chibata como instrumentos para liberar o caminho de transformar Alagoas num imenso canavial (65% da área cultivada é de cana).

O processo de concentração da terra como uma imposição colonial e uma injustiça praticada em nosso país, criou um abismo social e destruiu a natureza (matas, rios e nascentes). Este duro golpe dado pelas elites contou e conta com o apoio de Instituições, transformando a terra e as pessoas em mercadorias, preservando os patrimônios e desprezando o ser humano. Ofendendo o Criador e a criação.

A CPT acredita e vem trabalhando em Alagoas na organização e mobilização dos empobrecidos do campo para modificar as estruturas e restaurar a criação. Apoiar as ocupações de terra e fortalecer os assentamentos é missão nossa e de todos e todas que acreditam que a terra é um bem comum e social e que deve cumprir a sua função: produzir alimentos sadios em sintonia com a natureza e garantir renda para as famílias camponesas.

Sendo fiel ao Deus libertador, apoiados na memória dos Quilombolas de Palmares e com a proteção de Nossa Senhora da Apresentação, vamos continuar clamando e lutando para que a terra seja partilhada e que mais famílias sejam assentadas.

“Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!”

(Dom Pedro Casaldáliga)


fonte:cpt-Al

Trabalhadores rurais ainda esperam por justiça

O assassino de Jaelson Melquíades permanece foragido e muitos crimes ainda continuam sem resposta da Justiça

Por: Rafael Soriano – Assessor de Comunicação MST/AL

Há cinco anos, no dia 29 de novembro de 2005, o agricultor e dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região de Atalaia (45km de Maceió), Jaelson Melquíades voltava de uma reunião no então acampamento Ouricuri 3 – hoje o assentamento carrega seu nome. A ida para o assentamento Timbó, para o almoço com sua mãe, foi interrompida por volta das 14h quando foi abordado por dois pistoleiros. Testemunhas lembram que os dois homens já rondavam a região desde cedo, fingindo problemas com a moto e parando aqui e ali. Quando acertaram o primeiro tiro, Jaelson caiu da moto, indefeso para os outros 4 disparos que seguiram. Com pelo menos um tiro na cabeça, o Sem Terra morreu e seus algozes fugiram.

Cinco anos depois do mais recente assassinato de um líder político no campo alagoano, a impunidade indigna os camponeses em todo o Estado. O mandante nunca foi condenado e os pistoleiros que executaram Jaelson continuam soltos. Este não é o único crime sem resposta contra trabalhadores rurais que lutam por seu direito à terra. Outros casos de lideranças camponesas assassinadas continuam impunes, como a morte de Chico do Sindicato há 15 anos, José Elenilson há 10 anos e Luciano Alves (Grilo) há 7 anos.

Desde 2006, o dia 29 de novembro entrou para o calendário em Alagoas como o Dia Estadual de Luta Contra a Violência e a Impunidade no Campo e na Cidade. Uma semana de mobilizações deve iniciar na manhã desta segunda-feira (29) com um ato-denúncia e celebração religiosa, próximo à rodoviária no centro de Atalaia às 9h. No mesmo dia, milhares de trabalhadores chegarão a Maceió para uma vigília de fé em memória dos mártires da luta pela Reforma Agrária, simbolizando a esperança das cerca de 10 mil famílias do MST em Alagoas na punição dos culpados pelos crimes.

Monumento no local da morte de Jaelson

Lutar não é crime!

Na Zona Rural de Atalaia, no local onde houve a emboscada dos pistoleiros a Jaelson, os educandos da Escola Nacional de Formação do MST, que ocorre no Centro de Formação Zumbi dos Palmares, inauguraram na tarde desta quinta-feira (25) um monumento em homenagem a este lutador que tombou na esperança de ver a terra dividida entre seus irmãos.

Infelizmente, as mortes em Alagoas não são fatos isolados do resto do país. A realidade cruel do campo brasileiro exibe a face mais truculenta da elite fundiária no país: segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 2009 até julho de 2010 já se contabilizam 20 assassinatos de trabalhadores rurais e um total de 96 ameaças de morte a lideranças camponesas. A luta por Reforma Agrária é a saída encontrada por milhões de trabalhadores excluídos do acesso aos direitos fundamentais, como alimentação, saneamento, educação, saúde etc. Acreditando que o fim do latifúndio no Brasil abre um novo horizonte de geração de trabalho, soberania alimentar e desenvolvimento para as comunidades, as famílias Sem Terra se organizam para a participação social, pressionando o poder público para que efetive os direitos que lhes são garantidos na Constituição.

Queremos justiça!!!

Audiências

Como conseqüência das mobilizações do início do mês em prefeituras por todo o Estado, o Movimento aproveita sua passagem por Maceió para realizar na tarde desta segunda-feira uma audiência com a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), na intenção de encaminhar coletivamente as demandas infra-estruturais da Reforma Agrária nas cidades do interior. Ainda, devem ocorrer audiências com o Governo do Estado e reuniões com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para debater e encaminhar demandas de crédito, assentamento de famílias e mais verbas para a política agrária no país