Romaria da Terra aborda: “Menos terra concentrada, mais famílias assentadas”


O município de Porto Calvo sedia hoje (27.11) a partir das 20h, a 23ª Romaria da Terra e das Águas do Estado de Alagoas. É uma promoção da Comissão Pastoral da Terra (CPT-AL) em parceria com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e conta com o apoio da Arquidiocese de Maceió, Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL) e da Paróquia Nossa Senhora da Apresentação. Ao todo serão 11km de caminhada, da Comunidade Manganzala até o Assentamento Conceição, e tem como tema central: “Menos terra concentrada, mais famílias assentadas”.

Cerca de 5000 pessoas oriundas de várias partes do Estado e paróquias prestigiarão as apresentações culturais e a Santa Missa às 22h, presidida pelo Arcebispo Dom Antônio Muniz, que também exaltará o lema “400 anos de evangelização: clamando por terra, água e pão”. É um momento de integração entre o campo e a cidade, envolvendo trabalhadores(as) rurais, padres, religiosos(as), representantes de movimentos sociais, leigos e população local.

Após a celebração, os romeiros e romeiras seguirão em caminhada e cantarão músicas religiosas, que também ressaltam a luta campesina e por dignidade de filhos e filhas de Deus. Durante as paradas estratégicas terão reflexões críticas sobre a concentração da terra em poucas mãos e as conquistas dos assentamentos, como sinal de partilha e de pão na mesa dos empobrecidos. A Romaria também é o momento de agradecer ao Senhor da vida a alegria de ter conseguido, com muito esforço e resistência, um lote de terra para plantar e ressaltar a importância da reforma agrária no país.


Refletindo o tema da 23ª Romaria: “Menos Terra Concentrada, Mais Famílias Assentadas”
Por: Carlos Lima
Historiador e Coordenador da CPT-AL



Um velho careca (calvo) construiu um porto no rio... Assim, segundo a lenda, nasceu o nome da cidade de Porto Calvo. Terra de Calabar e a do rei Zumbi. Também foi em Porto Calvo que começou o Cristianismo católico em Alagoas, sob as bênçãos da Virgem da Apresentação, senhora da Igreja e mãe dos empobrecidos, serva de Deus e educadora da fé.

Neste município de muita história e pouca memória, já no século XVI existia como freguesia, fundado por Cristóvão Lins, responsável pela introdução da cana de açúcar e dos primeiros engenhos - Escurial, Maranhão e Buenos Aires - que duraram quatro séculos e foram substituídos pelas atuais usinas.

Para instalar a cultura branca e produzir cana de açúcar, os portugueses e seus representantes tiveram que expulsar os índios de suas terras e utilizar a mão de obra escrava nos canaviais, assim surgia o processo de concentração da terra, sinônimo de riqueza para algumas famílias e de miséria para a população. Este modelo de produção que nasceu em Porto Calvo, se expandiu em todo o Estado adotando a pólvora e a chibata como instrumentos para liberar o caminho de transformar Alagoas num imenso canavial (65% da área cultivada é de cana).

O processo de concentração da terra como uma imposição colonial e uma injustiça praticada em nosso país, criou um abismo social e destruiu a natureza (matas, rios e nascentes). Este duro golpe dado pelas elites contou e conta com o apoio de Instituições, transformando a terra e as pessoas em mercadorias, preservando os patrimônios e desprezando o ser humano. Ofendendo o Criador e a criação.

A CPT acredita e vem trabalhando em Alagoas na organização e mobilização dos empobrecidos do campo para modificar as estruturas e restaurar a criação. Apoiar as ocupações de terra e fortalecer os assentamentos é missão nossa e de todos e todas que acreditam que a terra é um bem comum e social e que deve cumprir a sua função: produzir alimentos sadios em sintonia com a natureza e garantir renda para as famílias camponesas.

Sendo fiel ao Deus libertador, apoiados na memória dos Quilombolas de Palmares e com a proteção de Nossa Senhora da Apresentação, vamos continuar clamando e lutando para que a terra seja partilhada e que mais famílias sejam assentadas.

“Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!”

(Dom Pedro Casaldáliga)


fonte:cpt-Al

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